Fiz as pazes com Deus. E comigo
mesma. A vida não é mesmo para iniciantes. Depois de uma confissão pública de
que havia brigado com Deus, preciso dizer que agora, sim, passei a
entender o idioma divino.
A vida andava sem sentido.
Muitas perguntas, e nada de respostas de volta. Até que comecei a perceber que
deveria estar olhando para o lado errado, ou que enxergava por lentes erradas.
Precisava refrescar a minha visão sobre tudo.
Subitamente desperta em mim um
interesse que até então não exista, comecei a me pegar lendo a Bíblia, e a
esbarrar em pessoas que tinham mensagens para mim, que me fizeram entender um
pouco mais daquele momento de tantas dúvidas.
Pensei: vou testar se rezar
realmente funciona, e todos os dias vou fazer minha prece, e não vou mais pedir
que isso ou aquilo seja entregue a mim, vou pedir que me venha o que deve vir,
e que eu saiba aceitar a encomenda. Do que preciso, agora, é de mais
compreensão e menos julgamento. E assim, devagarinho, mas de forma constante, a
vida passou a fazer algum sentido.
As lentes foram desfocadas e eu
comecei a enxergar o óbvio: como sou uma pessoa agraciada por tantas
conquistas, conquistas que eram embaçadas por um foco desmedido naquilo que
eu não tinha e gostaria de ter. Foco embaçado também pela presença de
pessoas que sugavam, o meu tempo, a minha energia e tudo mais que vinha junto,
e que começaram- magicamente- a se afastar do meu caminho, assim como outras se
aproximaram, as que de fato faziam a diferença.
Os pequenos rituais sagrados e rotineiros
ganharam uma importância que nunca tiveram, e percebi que não há nada de pote
de ouro no fundo do arco-íris, a grande felicidade está aqui e agora, e não
mais no que não consigo.
É simples, mas complicado ao
mesmo tempo, porque exige um constante exercício de proximidade e
distanciamento, de experiência e análise, e de quebra, total e sem volta, de
crenças que limitavam o meu olhar sobre o mundo.
É uma mudança e tanto, e começo
a perceber que é um movimento coletivo, uma nova lua, um paradigma que está
sendo quebrado. Menos é mais, mais tempo vale mais que dinheiro, mais silêncio
em lugar de mais barulho. E vamos, de pouco em pouco, seguindo por caminhos
nunca antes navegados. É algo revolucionário o que estamos vivendo, mas
absolutamente solitário, porque é uma mudança orgânica, e interna, que mexe
primeiro em nós para depois alcançar o outro.
A relação dos homens com as
mulheres, dos pais com os filhos, do Estado com os cidadãos e vice versa, dos
homens com Deus, tudo vem mudando nos últimos tempos. Encontramo-nos perdidos
em algum ponto desta nova onda de energia que tem modificado todas as
nossas relações.
Consegui, a muito custo,
encontrar meu avatar neste matrix que está se instalando.
Para quem ainda não acordou, e
não percebeu o que estamos vivendo, só tenho a dizer : ‘wake up, Neo”.